Anny Karyne, 19, que costuma passar até 15 minutos conversando com o namorado, acha que a pesquisa não tem comprovação real. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press |
O minério pode ser encontrado em ligas metálicas de aparelhos, capas de proteção e botões dos celulares, sobretudo nos modelos mais modernos, dizem os estudiosos. O toque contínuo, por horas e dias seguidos, teria o efeito de causar manchas vermelhas, placas na pele e coceira insistente nos desavisados. Mas o celular não é o único vilão. Segundo especialistas ouvidos pela reportagem, outras peças como bijouterias, cintos, pulseiras e botões de calça jeans também teriam o mesmo potencial por conter níquel. As mulheres, que usam brincos e acessórios diariamente, seriam as mais atingidas pela dermatite de contato pelo celular.
Profissionais de saúde e entidades do estado receberam a conclusão do estudo com cautela, mas afirmaram o risco ser possível. Segundo a dermatologista Gisele Saraiva, são poucos os casos que aparecem em seu consultório. "É ainda muito pequeno, recebi uns cinco pacientes este ano. Mas está aumentando", alerta. Ela explica que a reação ao celular pode se manifestar em qualquer pessoa, embora seja mais comum naqueles que já apresentam histórico alérgico. "No primeiro contato, pode não fazer mal. Mas, com o tempo, a informação é armazenada e pode desencadear depois", diz.
O presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia Regional Pernambuco, Emerson de Andrade Lima, lembra que não apenas o níquel pode ser o culpado. Segundo ele, a borracha e a pintura do celular pode conter outros metais pesados, como o cromo e o cobalto. "Todas essas substâncias podem levar à irritação", diz. O dermatologista Emmanuel França endossa a precaução. "O percentual que vai desenvolver é muito pequeno, menos de 1% dos casos. Mas quem perceber a mancha, deve procurar o médico", orienta.
Foi o caso da aposentada Maria Fernandes, 58 anos, que percebeu a alergia por celular há cinco meses. Ela resolveu procurar ajuda depois que ficou com marcas com o formato do aparelho na bochecha e na orelha. "Começou com uma irritação e ficou vermelho. Não sabia o que era, depois foi identificado", conta a paciente, que descobriu a alergia ao níquel há três anos. Hoje ela diz que faz tratamento e usa capa de silicone no celular. "Continuo usando o aparelho normalmente", diz.
O alerta sobre os riscos do níquel à saúde não é de agora. Pesquisa da Clínica de Dermatologia da Santa Casa de São Paulo, realizada entre 1995 e 2002, em uma amostra de 1208 pacientes, já apontava que 33,5% do total apresentaram algum tipo de reação alérgica a um dos três metais que causam dermatoses por contato (níquel, cobalto e cromo). A novidade é a relação celular com a presença de níquel. Para o tratamento, é recomendada a distância do foco alérgico. Em casos extremos de inflamação grave, são prescritas medicações à base de corticóides e antibióticos.
Saúde pública - Especialistas não delimitam um tempo máximo de exposição ao níquel. No Brasil, não há legislação que verse sobre a presença de metais em produtos industrializados. Já a União Européia estipula o limite máximo de oito horas seguidas em contato com o material. Independente dos riscos ou não, os médicos pedem que o bom senso no uso do celular. "Quanto menor o tempo de exposição, melhor", diz Gisele Saraiva. (Saiba Mais)